Por Simão Pedro de Lima | Diretor Presidente Executivo da Expocacer
Postado em: 14/07/2025
1 - O Cenário
Os EUA são os maiores consumidores mundial de café, são cerca de 24 milhões de sacas consumidas anualmente! Maior consumidor e o maior importador do café brasileiro.
Em 2024, o Brasil exportou algo em tornos de 8,1 milhões de sacas de café para os Estados Unidos, o que representa aproximadamente 18% do total exportado pelo Brasil para todos os destinos.
Segundo o USDA, em 2024 o Brasil respondeu por 33% de todas as importações de café realizadas pelos Estados Unidos.
Isso demonstra que há forte dependência dos EUA em relação ao café brasileiro. Além de ser comercializado individualmente, o café brasileiro é fundamental para os blends que a indústria oferece ao mercado consumidor. É o café brasileiro que dá corpo e doçura aos cafés da América Central e Colômbia.
Pode-se dizer que ha uma ligação estratégica entre os dois mercados, a produção brasileira e a indústria americana. Apesar da importância do café brasileiro na economia consumerista americana, não há dúvidas que essa nova tarifa representará um aumento de custos e afetará a competitvidade para o café brasileiro frente às outras origens.
São 2,2 milhões de empregos e USD 343 bilhões de faturamento, o que representa 1,2% do PIB dos EUA. Para cada um dólar de café importado, são gerados 43 dólares na economia norteamericana, conforme demonstrado em matéria veiculada pela Globo News. Cerca de 76% da população americana toma café diariamente!
2 - As tarifas e o cenário competitivo
Para o Vietnam a tarifa americana é de 20%, para a Indonésia é de 32%, para a Nicarágua de 18%, para Colômbia e outros correntes é de 10%. Para o Brasil, com 50% a partir de 1º de agosto, o café importado pelos EUA sairá com custos acima das demais origens.
Os países exportadores de café para os Estados Unidos estão sendo atingidos por essas barreiras tarifárias (o Brasil fortemente). Isso reforça a perspectiva de que o consumidor americano será um dos mais impactados por essa política governamental americana. A origem poderá sofrer consequências restritivas para a oferta? Sim, mas o impacto no mercado consumidor será mais intenso.
3 - Diplomacia e Negociação
O ponto fundamental, nesse momento, é se ter uma negociação pragmática, dos dois lados. A economia de ambos os países (Brasil e EUA) sofrerão impactos.
Do lado americano haverá forte pressão inflacionária. Do lado brasileiro pode haver retração de embarques e consequente redução de divisas.
Buscando mitigar os efeitos tarifários, há que se destacar o trabalho da NCA (National Coffee Association) que mantém estreito contato com o governo americano e tem demonstrado aos governante a importância do café para a economia americana.
Por parte da NCA e das empresas a ela associadas, muito se está tentando junto às autoridades americanas, buscando se sensibiliza-las para o impacto negativo ao segmento cafeeiros dessa medida tarifária.
Fala-se nos EUA dos "recursos naturais indisponíveis", que indica certos produtos necessários ao consumo americano e que não são produzidos pelo país. Para esses produtos, que, obrigatoriamente, precisam ser importados, o café é frequentemente mencionado como um dos exemplos.
Dada à necessidade de importação, os produtos enquadrados como "recursos naturais indisponíveis", sofrem tarifações menores ou mesmo nem sofrem. Nesse contexto, bisca-se inserir o café nesse rol de produtos indispensáveis e indisponíveis naturalmente (o Hawai, que é um Estado americano, produz café, mas sem a escalaridade necessária - o que torna insignificante a produção ante ao consumo).
Do lado brasileiro, entidade representativas da cadeia produtiva estão se movimentando. O Conselho Nacional do Café (CNC), o Conselho dos Exportadores de Café (CECAFE), a Associação Brasileira das Indústria de Café (ABIC) e a Associação Brasileira de Cafés Solúvel (BICS) grandes e fortes entidades do segmento cafeeiro se mobilizam tanto junto ao segmento privado, como junto ao setor governamental brasileiro.
Essas entidades estão em constante contato com o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) para, juntos, entabularem negociações com os representantes americanos. O CECAFE e a NCA, em estreita colaboração recíproca, trabalham no mercado americano para se ter negociações equilibradas, justas e
com bom senso.
4 - E os Preços?
Talvez essa seja a pergunta crucial, como se comportará o mercado? Esperava-se que os preços recuassem de imediato, pois a tarifação poderia inibir o consumo. Entretanto, o que se viu foi uma alta acentuada na bolsa de New York no dia imediatamente posterior à divulgação do aumento tarifário.
Uma outra alta, moderada, se verificou no segundo dia subsequente. No terceiro dia se teve um pregão movimentado, com significativa volatilidade nas cotações, com o fechamento em baixa. Isso mostra que o elemento especulativo se nutre com notícias e com expectativas (a vigência da tarifa será a partir de agosto).
Falar, nesse momento, em impacto nos preços é um exercício especulativo, nada factual! O Brasil está em plena colheita e os fundamentos para formação de preço ainda são incertos.
Verifica-se uma colheita em bom ritmo, porém indicando quebra de produção acima do esperado. Percebe-se um baixa conversão de frutos para grãos, o que é chamado de rendimento. Percebe-se que o volume de grãos beneficiados advindos dos frutos colhidos está aquém do esperado, aquém da média naturalmente conseguida em outras safras.
Os estoques da safra passada estão em níveis baixos (dizem alguns analistas que é o menor estoque desde a década de 90). Os estoques nos países consumidores também estão abaixo da média histórica, o que preocupa a indústria mundial.
Prever a safra 2026 ainda é cedo! O Brasil está em pleno inverno. Embora se tenha ótimos modelos matemáticos para previsão climática, nada se pode afirmar em termos de riscos de geada ou mesmo frio intenso. Tampouco se pode prever como e quando será a "volta" das chuvas.
Assim, percebe-se que os elementos que formam os fundamentos de mercado estão indicando uma certa fragilidade para se afirmar previsões baixistas de preço. Há, ainda elementos econômicos mundiais, questões geopolíticas, guerras e elementos outros que também afetam a precificação.
A equação a se verificar dependerá da confrontação entre o tarifaço e os fundamentos mercadológicos do momento. Qual prevalecerá? Aí está, em linguagem antiga (para não dizer arcaica), o "busílis" da questão.
5 - Haverá substituição do Café Brasileiro?
Outra pergunta de difícil resposta. Como já dito, o café brasileiro é altamente estratégico para os blends oferecidos aos consumidores. As características naturais do café brasileiro não são comuns aos cafés de outras origens.
O corpo, a acidez e a doçura do café brasileiro são elementos que não se substituem (pelo menos não de imediato). O paladar dos apreciadores já se moldou a esses elementos na forma em que estão no produto final.
Qual país poderia substituir a oferta de imediato? Os centrais, a Colômbia? A resposta seria não, pois são esses os cafés nos quais o café brasileiro é adicionado.
Os cafés africanos ou da Indonésia? A resposta também seria não (pelo menos de imediato), pois o volume estaria acima da capacidade de oferta, pois são cafés comercializados para a Europa e Ásia e maioria e não seriam destinados imediatamente ao mercado americano em detrimento aos mercados consumidores já consolidados.
Vê-se, portanto, que a substituição do café brasileiro não é algo simples e imediato.
6 - E o Café brasileiro para onde iria?
Outra pergunta um tanto complexa. O Brasil exporta aos EUA cerca de 8,1 milhões de sacas. Redirecionar esse volume não é tarefa fácil, visto se ter os outros mercados já abastecidos. Países fornecedores, volume comercializado e qualidade (blends) já estão firmados, alterar isso é complexo.
Fala-se no mercado chinês, que está sendo visto como o destino consumerista do café do mundo. Sim, é um mercado em ascensão, mas não pode ser visto como um panaceia. É um mercado que vem se consolidando, mas não é um substituto do mercado americano para o café brasileiro. São padrões comportamentais distintos.
Então, mudar o mercado para o destino do café brasileiro não é tarefa simples, não é aquilo que se diz que "se faz da noite para o dia". Demanda estudos, logística, recursos financeiros, hedges, dente outras coisas complexas também.
7 - Em resumo
O momento é incerto, preocupante e exige serenidade aliada ao pragmatismo e ancorada na diplomacia pragmática.
Acompanhar com lupa os acontecimentos e os desdobramentos dessa situação é o que nos cabe fazer.
Tomar medidas mitigadoras de riscos, buscar novas alternativas, desenvolver parcerias e unirmo-nos toda a cadeia cafeeira serão elementos fundamentais para esse momento pré 1º de agosto.
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